SÃO PAULO – Em dia de decisão sobre o novo patamar da taxa básica de juros, a Selic, cresceram as expectativas de economistas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve os juros em pelo menos 1,5 ponto percentual nesta quarta-feira (27).
Esse ajuste ajuda a provocar oscilação nos preços e taxas dos títulos públicos. As negociações de papéis via Tesouro Direto chegaram a ser suspensas perto do meio dia, mas foram retomadas na sequência.
Agora à tarde, o mercado de títulos públicos opera sem direção única. Isso porque as taxas oferecidas pelos papéis prefixados recuam, enquanto os atrelados à inflação operam próximo da estabilidade.
O juro pago pelo Tesouro Prefixado com vencimento em 2024, por exemplo, era de 11,82%, na atualização das 15h, contra 12,12% ao ano vistos no começo da manhã. Um dia antes, o título oferecia retorno de 11,90%.
Da mesma forma, o retorno real oferecido pelo título atrelado à inflação com vencimento em 2026 recuava de 5,45%, no início desta quarta, para 5,37%, às 15h, mesmo percentual visto na sessão anterior.
Outro destaque está na remuneração real paga pelo Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2055 e pagamento de juros semestrais que era de 5,48%, abaixo dos 5,53% registrados pela manhã. O valor está em linha com os 5,49% vistos ontem.
Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidas na tarde desta quarta-feira (27):
Alta na Selic e desemprego
O destaque desta quarta-feira está na decisão do Copom, que será anunciada no começo da noite pelo Banco Central. De segunda para terça-feira, as projeções de economistas para a subida dos juros na reunião de hoje ganharam velocidade.
Com a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), indicador que é considerado a prévia da inflação oficial, acima do previsto pelo mercado, mais casas passaram a prever uma Selic ainda mais alta na reunião de hoje, no momento, um aumento de “pelo menos” 1,5 ponto passou a preponderar entre as expectativas. Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o IPCA-15 coloca mais uma pressão sobre Banco Central, uma vez que é difícil de acreditar que a autoridade monetária vai ter comunicação boa o suficiente para entregar uma alta menor do que 1,5 ponto sem provocar certo estresse no mercado.
Na mesma linha, o Goldman Sachs apontou que espera que o Copom eleve a Selic para pelo menos 1,5 ponto percentual. Segundo o banco, no entanto, há uma chance de 20% de que a taxa básica de juros seja elevada para entre 1,75 ponto e 2 pontos percentuais.
Também na agenda econômica, a taxa de desocupação foi para 13,2% no trimestre encerrado em agosto, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada nesta quarta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A expectativa mediana do consenso Refinitiv era de que a taxa de desemprego ficaria em 13,4% entre junho e agosto. Os números representam uma redução de 1,4 ponto percentual em relação ao trimestre encerrado em maio (14,6%).
Apesar do recuo, os dados ainda mostram uma triste realidade: 13,7 milhões de pessoas estavam em busca de um trabalho no país no trimestre encerrado em agosto.
PEC dos precatórios e caminhoneiros
Vale prestar atenção também na possível votação da PEC dos precatórios pelo plenário da Câmara. Na terça-feira, a oposição defendeu esvaziar o projeto.
A expectativa é em torno da fala de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. Ao ser questionado, Lira disse que tem dialogado com líderes da base do governo e que vai procurar lideranças da oposição “para ter um sentimento sobre o texto” da PEC dos Precatórios.
A discussão com a oposição, no entanto, não deve ser fácil. Reportagem de capa da Folha de S. Paulo diz que os partidos de oposição votariam contra o dispositivo, alegando que adiar o pagamento dos precatórios criaria uma “bola de neve”.
Também na véspera, Marcelo Aro (PP-MG), relator da MP do Auxílio Brasil, afirmou que não foi procurado pelo Ministério da Economia desde a semana passada para debater a medida provisória, e arrisca dizer que a pasta ainda não tem uma solução orçamentária para o novo programa de assistência social que substituirá o Bolsa Família.
“O Ministério da Economia está em silêncio. Eu não recebi um único telefonema do Ministério da Economia desde sexta-feira”, disse o deputado em entrevista à Reuters.
Também na cena política, o mercado acompanha movimentações em torno da greve dos caminhoneiros. Em entrevista à Rádio Bandeirantes nesta quarta-feira (27), Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura, disse que não acredita numa grande adesão de caminhoneiros na paralisação da categoria, que está prevista para 1º de novembro.
Segundo o ministro, o movimento dos motoristas autônomos construído nas últimas semanas não terá a mesma envergadura da greve de 2018, que deixou o país desabastecido em termos de alimentos e combustíveis.
Cena internacional
Enquanto isso no cenário externo, o mercado segue atento às divulgações de balanços nos Estados Unidos e na Europa. Os índices americanos operam de forma mista. Por volta das 15h, o Dow Jones recuava 0,26%, enquanto o S&P e Nasdaq avançavam 0,10% e 0,74%, respectivamente.
Os resultados trimestrais das companhias americanas continuam surpreendendo positivamente. Hoje de manhã, Coca-Cola e McDonald’s trouxeram números acima do esperado pelos analistas. Ontem à noite, Microsoft e Alphabet (dona do Google) também apresentaram balanços positivos.
Na Europa, o índice Stoxx 600, que reúne as ações de 600 empresas de todos os principais setores de 17 países europeus, recua, com destaque negativo de empresas de mineração. O Deutsche Bank divulgou lucro acima da expectativa, apesar de queda na receita de sua unidade de banco de investimentos. Mesmo com o resultado positivo, suas ações tiveram queda.
Fonte: Infomoney