SÃO PAULO – As negociações de títulos públicos negociados via Tesouro Direto voltaram a ser suspensas por volta das 14h38, pela segunda vez nesta quinta-feira (21). A pausa está ligada à forte oscilação de preços e taxas. Com isso, investidores podem comprar ou vender apenas papéis do Tesouro Selic.
Quando há forte volatilidade no mercado, a Secretaria do Tesouro Nacional suspende temporariamente as negociações para evitar que o investidor feche transações que não refletem corretamente as condições do mercado de títulos públicos.
O desconforto dos agentes financeiros está ligado ao que deve ser feito para financiar o Auxílio Brasil. As incertezas giram em torno de discursos desencontrados de integrantes do governo. Agora pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro reiterou que não há ninguém furando o teto, ao se referir ao aumento anunciado para o novo programa de transferência de renda.
Ontem (20), no entanto, Paulo Guedes, ministro da Economia, tinha dito que o governo estudava pedir uma “licença” para um gasto de cerca de R$ 30 bilhões acima do teto, com o objetivo de financiar o Auxílio Brasil.
Investidores também monitoram a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que cerca de 750 mil caminhoneiros poderiam receber uma ajuda para compensar o aumento do preço do diesel.
Antes da suspensão das negociações pela segunda vez no dia, às 11h47, as taxas oferecidas pelos títulos públicos recuavam um pouco em relação aos prêmios vistos na abertura dos negócios. Nesse horário, o retorno pago pelo papel com vencimento em 2031 era de 11,91%, abaixo dos 12,10% ao ano vistos no começo da manhã. Na sessão anterior, o papel oferecia retorno de 11,57%. O valor é recorde para esse papel, que passou a ser oferecido no Tesouro Direto em fevereiro do ano passado.
No mesmo horário, o juro pago pelo título com vencimento em 2024 caía de 11,36% para 11,26%. Um dia antes, o retorno oferecido por esse papel era de 10,86%. A taxa é a mais alta já entregue pelo título, disponível no Tesouro Direto desde fevereiro de 2021.
Entre os papéis atrelados à inflação, o retorno real pago pelo Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2055 e pagamento de juros semestrais era de 5,37%, às 11h47, contra 5,55% ao ano, no início das negociações. Mesmo assim, o percentual era maior do que os 5,29% vistos ontem.
A mesma situação era vista com os títulos atrelados à inflação com vencimento em 2026. A remuneração oferecida por esses papéis recuava de 5,29% para 5,15%, às 11h47. Um dia antes, o título oferecia retorno real de 5,06% ao ano.
Auxílio Brasil, PEC dos precatórios e caminhoneiros
A sessão desta quinta-feira (21) segue tumultuada, diante das incertezas em torno do financiamento do Auxílio Brasil. Agora pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reiterou que “ninguém está furando o teto”, ao mesmo tempo que voltou a prometer o aumento do valor pago “com responsabilidade”. A declaração foi feita durante evento da Paraíba.
O discurso difere do que foi sugerido ontem (20) por Paulo Guedes, ministro da Economia. Durante evento, ele disse que o governo está buscando agora a formatação final dos R$ 400 e que estuda pedir uma licença (waiver) para gastar R$ 30 bilhões fora da regra do teto de gastos.
“Estávamos estudando se faríamos antecipação da revisão de teto de gastos para 2026 ou se pediríamos um waiver [perdão fiscal] para gastar essa camada temporária de proteção”, afirmou o ministro. Segundo Guedes, seria uma licença com “número limitado, pouco mais de R$ 30 bilhões”.
Na avaliação de analistas ouvidos pelo InfoMoney, a fala de Guedes ataca fortemente a principal âncora fiscal do país, o que pode trazer impactos em termos de crescimento econômico e de taxa de juros.
“O mercado vai ficar bem ressabiado até a conclusão final [do programa]. Será que vai haver surpresas além dos R$ 30 bilhões?”, disse Thomas Giuberti, da Golden Investimentos. “A fala do ministro deu a entender que o teto de gastos será rompido e o mercado azedou de vez, contratando um clima ruim na abertura”, completou.
Antes da fala de Guedes, João Roma, ministro da Cidadania, já tinha confirmado que o valor do Auxílio Brasil seria de, ao menos, R$ 400. A despesa permanente do programa sofreria um reajuste de 20%.
Os gastos além do esperado devem pesar também em 2022. Segundo apurou o jornal O Estado de S.Paulo, serão R$ 51,1 bilhões de gastos extras no ano que vem, sendo R$ 38,7 bilhões em gastos temporários – ainda sem definição de financiamento e se ficarão dentro do teto de gastos – além de mais R$ 12,4 bilhões, que representam o reajuste da parte permanente, e que ficarão dentro da regra fiscal. Para 2021, o impacto deve ser de R$ 6,9 bilhões.
Outro tema que deve pautar os negócios hoje é a PEC dos precatórios. Após dois adiamentos na votação, a Comissão Especial da PEC dos Precatórios pode votar hoje o parecer de Hugo Motta (Republicanos-PB), relator do projeto. A reunião estava marcada para às 14h30.
Investidores repercutem ainda mais uma notícia que pode ter forte impacto fiscal. Durante evento na Paraíba, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quinta-feira (21) que em torno de 750 mil caminhoneiros receberão ajuda para compensar o aumento do preço do diesel.
Sem dar muitos detalhes sobre a medida, o presidente falou apenas que busca atender os caminhoneiros autônomos.
“Fazemos isso porque é através deles que os alimentos chegam nos quatro cantos do país”, apontou Bolsonaro.
Cena internacional
As atenções do mercado na cenário externo estão voltadas para dados vindos dos Estados Unidos. Segundo o Departamento do Trabalho americano, o número de pedidos de auxílio-desemprego teve leve queda de 6 mil na semana encerrada em 16 de outubro, a 290 mil, conforme dados apresentados nesta quinta-feira (21), com ajustes sazonais.
O resultado surpreendeu analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam avanço para chegar a 300 mil solicitações. O total de pedidos da semana anterior foi ligeiramente revisado para cima, de 293 mil a 296 mil. Já o número de pedidos continuados apresentou recuo de 122 mil na semana encerrada em 9 de outubro, a 2,481 milhões. Esse indicador é divulgado com uma semana de atraso.
Já na Ásia, as bolsas asiáticas tiveram desempenhos variados entre si, com os investidores de olho nos resultados da incorporadora China Evergrande Group.
Ontem, a empresa, que passa por uma crise da dívida, anunciou que não chegou a um acordo para vender 50,1% de sua participação no negócio de serviços voltados propriedades à concorrente Hopson Development Holdings. A Evergrande, que já não vem pagando determinadas dívidas, anunciou que não há garantia de que será capaz de arcar com suas obrigações financeiras.
Contudo, depois do fechamento dos mercados por lá, a Reuters informou que a incorporadora conseguiu a extensão de título inadimplente, que permite uma trégua à gigante imobiliária chinesa após o fracasso do acordo na venda do ativo.
Fonte: Infomoney