SÃO PAULO – A pouco menos de um ano das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém a dianteira na corrida ao Palácio do Planalto, segundo pesquisa feita pelo Ipespe e divulgada nesta sexta-feira (26).
O levantamento, encomendado pela XP Investimentos, indica uma vantagem mais confortável para o petista em comparação com levantamentos anteriores, mas uma leve redução no interesse do eleitor pela disputa presidencial de 2022.
Segundo a pesquisa, Lula mantém 42% das intenções de voto nas duas simulações estimuladas de primeiro turno (isto é, quando o eleitor escolhe seu candidato entre opções apresentadas pelo apresentador). Ele é seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que aparece com 25% ou 24% das menções, dependendo da lista de candidatos.
Com isso, a vantagem do petista passou de 14 pontos percentuais, em outubro, para 17 p.p., embora os cenários não sejam plenamente comparáveis ‒ já que as listas de candidatos foram modificadas ao longo da série histórica.
Os dois são seguidos pelo ex-juiz federal Sérgio Moro (Podemos) e pelo ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que aparecem respectivamente com 11% e 9% das intenções de voto nas duas simulações de primeiro turno feitas pela pesquisa. Como a margem máxima de erro é de 3,2 pontos percentuais, o quadro configura empate técnico entre os possíveis candidatos.
Em abril de 2020, ainda não filiado a nenhum partido político, Moro chegou a contar com o apoio de 18% do eleitorado. Aquele período marcou o rompimento com Bolsonaro e a saída do Ministério da Justiça, sob alegação de sucessivas tentativas de interferência do mandatário sobre a Polícia Federal. O episódio marcou o racha entre o bolsonarismo e o lavajatismo.
O Ipespe mostra que, no cenário 1, o terceiro pelotão é ocupado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), com 2%; o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o cientista político Luiz Felipe D’Ávila (Novo) ‒ os três com 1% cada. Os chamados “não votos” (brancos, nulos e indecisos) somam 9% do eleitorado.
Já no cenário 2, o grupo é ocupado pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), Mandetta (DEM) ‒ com 2% cada ‒, Pacheco e D’Ávila ‒ com 1% cada. Outros 8% não votariam em ninguém ou não responderam ao questionamento.
Antes das duas simulações, foi feita uma pesquisa espontânea (quando o eleitor aponta seu candidato sem que nomes sejam apresentados pelo entrevistador).
Normalmente, quando mais próximo do pleito, este formato aponta para maior cristalização de apoio aos candidatos. A um ano da disputa, ele ajuda a indicar o nível de conhecimento que os eleitores têm de alguns nomes que podem participar da eleição.
Neste caso, Lula lidera com 32% das menções. Bolsonaro aparece com 22%, enquanto Ciro Gomes e Sérgio Moro dividem a terceira posição com 3% cada. João Doria tem 1%, enquanto outros possíveis candidatos não conseguiram atingir 1%. Os “não votos” somam 38%.
A pesquisa Ipespe foi realizada entre os dias 22 e 24 de novembro e contou com 1.000 entrevistas telefônicas, através do sistema CATI, com eleitores de todas as regiões do Brasil. A margem de erro estimada é de 3,2 pontos percentuais.
O intervalo de confiança é de 95,5%, o que significa que, se o questionário fosse aplicado mais de uma vez no mesmo período e sob mesmas condições, esta seria a chance de o resultado se repetir dentro da margem de erro máxima apontada.
O levantamento confirma um quadro de dificuldades para candidatos alternativos à polarização protagonizada por Lula e Bolsonaro a um ano das eleições. Além do espaço limitado de crescimento, o grupo lida com uma multiplicidade de potenciais candidaturas – o que tende a dividir votos e reduzir ainda mais as chances daquilo que se convencionou chamar de “terceira via”.
O risco tem sido avaliado por lideranças no bloco, que articulam conversas em torno de uma candidatura única comandada pelo entendido como o com mais chances para tirar Lula ou Bolsonaro do segundo turno. Um primeiro movimento foi feito por Mandetta, que informou ao comando do União Brasil (partido em formação a partir da união entre DEM e PSL) que não deseja mais disputar a presidência e 2022.
Por outro lado, há uma expectativa de que o PSDB conclua suas prévias e lance João Doria ou Eduardo Leite como representante da sigla na corrida presidencial. A disputa entre os tucanos tem sido marcada pela desagregação do partido, trocas de ataques entre integrantes de alas rivais e por sucessivas falhas técnicas no sistema de votação escolhido.
A pesquisa feita pelo Ipespe também mediu o nível de apoio e rejeição aos nove candidatos testados. Segundo o levantamento, 62% não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro, contra 45% que rejeitam Lula. Por outro lado, 26% afirmam que com certeza votariam no atual presidente e 8% poderiam votar. No caso do petista, são 41% e 13%, respectivamente.
Na chamada “terceira via”, Doria tem o nível mais alto de rejeição: 53%. Ele é seguido por Moro e Mandetta, ambos com 50%. O ex-juiz, por outro lado, é o possível candidato que, no grupo, conta com o maior número de eleitores que declaram voto convicto: 12%. Já Ciro Gomes lidera na faixa de potenciais eleitores, com 39% das menções.
Segundo turno
Foram feitas oito simulações de segundo turno. O ex-presidente Lula aparece em cinco delas, superando seus adversários com vantagem superior ao limite da margem de erro. Contra Bolsonaro, a diferença subiu para 20 pontos percentuais. Os dois passaram 8 meses tecnicamente empatados, mas a partir de junho Lula assumiu a dianteira da disputa e passou a costurar vantagem vantagem.
Quando testado com Moro, Lula aparece com 51% das intenções de voto, contra 34% do ex-juiz. Seis meses atrás, a diferença era de 3 p.p., o que configurava empate técnico. Moro chegou a liderar a disputa com vantagem superior à margem de erro em três pesquisas realizadas no ano passado.
Lula também derrotaria Ciro Gomes (50% a 27%), João Doria (51% a 22%) e Eduardo Leite (52% a 20%). Em todos os casos, a vantagem de Lula sobre os potenciais adversários supera os 17 pontos percentuais.
Além do cenário contra Lula, o nome de Bolsonaro é testado contra três potenciais adversários. O presidente não aparece à frente em nenhuma simulação. Contra Ciro Gomes, a distância cresceu para 11 pontos percentuais (44% a 33%).
Contra Doria, a desvantagem de Bolsonaro chegou a 7 p.p. (42% a 35%) – a maior já registrada nesta simulação e superior à margem de erro. Já contra Leite o quadro é de empate (35% a 35%).
Cabeça do eleitor
O levantamento também mostrou um leve recuo no grau de interesse dos eleitores no pleito de 2022. Segundo a pesquisa, 47% dizem estar muito interessados na disputa – 7 pontos percentuais a menos do que no pico observado em setembro.
Já os eleitores com “algum interesse” oscilaram de 14% para 15% no período. O grupo dos “pouco interessados” ou sem nenhum interesse no processo eleitoral, por outro lado, foi de 31% para 37% nesses dois meses.
A maioria dos eleitores (56%) diz desejar que o próximo presidente mude totalmente a forma como o Brasil está sendo administrado. Outros 26% querem que o eleito mude um pouco a forma como o país está sendo conduzido, ao passo que 14% querem continuidade.
O tema mais citado pelos entrevistados foi a educação (30%), seguido de inflação e custo de vida (15%), saúde (17%), desemprego (13%) e fome/miséria (9%). Ao todo, 40% das preocupações estão diretamente relacionadas à pauta econômica.
Fonte: Infomoney