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Tesouro Direto: com projeções do mercado mais altas para IPCA e Selic, juros dos prefixados voltam a subir e passam de 12% ao ano

SÃO PAULO – Na sessão desta segunda-feira (22), o destaque está nas estimativas apresentadas no Relatório Focus, do Banco Central. Hoje, a mediana das projeções dos economistas consultados pelo BC apontou que a inflação oficial deve ultrapassar os 10% neste ano, frente aos 9,77% esperados uma semana antes.

Também houve piora nas estimativas para o avanço da inflação e dos juros no ano que vem. No caso da taxa básica de juros, os agentes financeiros preveem que a Selic agora deve terminar o ano em 11,25% ao ano, contra 11% ao ano no levantamento anterior.

Na esteira de pressões inflacionárias cada vez mais fortes e que exigem uma postura ainda mais dura do Banco Central sobre os juros, a maioria dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto opera com alta nas taxas, na atualização das 15h21 desta segunda-feira.

O avanço é maior entre os papéis prefixados, como o Tesouro Prefixado 2024. Na atualização das 15h21, o retorno oferecido por esse título era de 12,18% ao ano, contra 12,11%, no começo do dia. Na sessão anterior, o juro pago era de 11,96% ao ano. No mesmo horário, a rentabilidade oferecida pelo Tesouro Prefixado 2031 era de 11,77% ao ano, frente aos 11,75%, do início dos negócios. Na última sexta-feira (19), o percentual oferecido era de 11,65%.

Com isso, a diferença entre a remuneração do título de prazo mais curto (2024) e o de prazo mais longo (2031) chegava a 41 pontos-base, durante a tarde. Entenda o que explica esse fenômeno em que os papéis de vencimento mais próximo oferecem juros maiores do que os de prazo mais alongado.

Já entre os títulos atrelados à inflação, o retorno real oferecido pelo Tesouro IPCA+ 2026 subia de 5,14% ao ano, na sessão anterior, para 5,17% ao ano, patamar que se manteve ao longo do dia. As taxas oferecidas pelo Tesouro IPCA+ 2055, com pagamento semestral de juros, por sua vez, eram de 5,30% – mesmo valor registrado na sexta-feira (19).

A distância entre a rentabilidade oferecida pelo papel de prazo mais curto (2026) e o de prazo mais longo (2055) chegava a 13 pontos-base (0,16 ponto percentual), durante a tarde, contra 8 pontos-base (0,08 ponto percentual) nas negociações da semana passada.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta segunda-feira (22): 

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Focus

No radar local, o mercado financeiro elevou, pela 33ª semana, suas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano, desta vez de 9,77% para 10,12%. As estimativas para o indicador em 2022 também tiveram piora, de 4,79% para 4,96%, na 18ª semana consecutiva. Os dados constam no Relatório Focus, do Banco Central divulgado nesta segunda-feira (22).

Diante da forte pressão inflacionária, os economistas ouvidos pelo BC elevaram suas expectativas para os juros em 2022 e agora veem a Selic encerrando o próximo ano em 11,25% ao ano, acima dos 11% esperados no levantamento anterior.

Para dezembro deste ano, a estimativa para a taxa básica de juros foi mantida em 9,25% ao ano. A expectativa é de novo aumento de 1,5 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no início de dezembro.

Com relação ao desempenho da economia brasileira, o Focus aponta piora nas projeções. Agora, o mercado estima crescimento de 4,80% este ano, ante 4,88% anteriormente, e expansão de 0,70% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, ante estimativa de crescimento de 0,93%.

Para Dalton Gardimam, Ricardo Mauad, Guilherme Zimmermann e Bernardo Keiserman, analistas do Bradesco BBI, o Focus segue mostrando que o caminho no ano que vem será marcado por um crescimento econômico mais baixo e por uma inflação mais acelerada. Chama a atenção também que as estimativas para a alta de preços em 2022 e 2023 avançaram ainda mais.

“Apesar de a expectativa de atividade econômica mais fraca, os analistas continuam projetando inflação mais alta para o IPCA em 2022 e 2023, levando a expectativas também mais altas para a taxa Selic no ano 22, que subiu 25 bps [25 pontos-base] em relação à semana passada, atingindo 11,25%”, destacaram os especialistas do BBI em relatório.

PEC dos Precatórios, prévias no PSDB e auxílio gás

Na seara política, o domingo (21) foi marcado por confusão nas prévias do PSDB para a escolha de seu candidato à Presidência nas eleições de 2022.

Uma pane no aplicativo de votação pelo celular fez o desfecho da eleição ser adiado de forma indefinida. Segundo o jornal O Globo apenas 3.000 dos 44.700 filiados aptos a votar conseguiram participar das prévias ontem.

Investidores também repercutem matéria do jornal Valor Econômico que diz que o montante de R$ 89,6 bilhões que a PEC dos Precatórios pode abrir é insuficiente para custear outros compromissos assumidos pelo governo e que, portanto, não há espaço para reajuste de servidores públicos.

De acordo com a matéria, um estudo de Juliana Damasceno, economista sênior da Tendências Consultoria e pesquisadora associada do Instituto Brasileiro de Economia (FGV-IBRE), aponta que levando-se em conta despesas com o Auxílio Brasil, correção de mínimos constitucionais e emendas impositivas, vale-gás, auxílio diesel, expansão do fundo eleitoral e revisão de gastos indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), a conta já alcançaria R$ 102,7 bilhões. Ou seja, o saldo ficaria negativo em R$ 13,1 bilhões em relação ao total que seria liberado pela PEC.

Também na cena política, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou proposta que cria o auxílio gás para ajudar a população de baixa renda a adquirir gás de cozinha. A informação foi divulgada por meio de nota pela Presidência da República nesta segunda-feira.

Segundo o documento, com o programa, cada família elegível vai receber, a cada bimestre, um valor correspondente a uma parcela de, no mínimo, 50% da média do preço nacional de referência do botijão de 13 kg, estabelecido pelo Sistema de Levantamento de Preços (SLP), conforme regras a serem definidas em decreto.

Cenário internacional

No radar externo, o mercado segue atento ao avanço da Covid-19 na Europa. Na semana passada, Áustria e Alemanha voltaram a impor restrições de mobilidade, especialmente para a população não vacinada.

Já nos Estados Unidos, investidores repercutem a indicação de Jerome Powell, atual presidente do Federal Reserve, para que ele permaneça no cargo por mais quatro anos. A decisão foi tomada por Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, e informada nesta segunda-feira pela Casa Branca. A indicação ainda precisa ser aprovada pelo Senado americano.

“Embora ainda haja mais a ser feito, fizemos um progresso notável nos últimos 10 meses para fazer os americanos voltarem ao trabalho e para colocar nossa economia em movimento novamente. Esse sucesso é uma prova da agenda econômica que persegui e da ação decisiva que o Federal Reserve tomou sob a presidência de Jerome Powell”, afirmou o presidente Joe Biden em nota.

O mercado aguardava com certa ansiedade a decisão do presidente Joe Biden. Powell é visto como um dirigente mais hawkish (inclinado ao aperto monetário) e possivelmente deve manter uma política mais austera, elevando de forma mais rápida as taxas de juros nos Estados Unidos. O dirigente ocupa a cadeira desde 2018.

Fonte: Infomoney