SÃO PAULO – O Ibovespa enfrentou mais uma sessão de volatilidade e terminou a quinta-feira em baixa. Novamente a Bolsa deixou em segundo plano os resultados positivos das empresas no segundo trimestre. Alguns papéis impediram que a queda fosse maior, mas não conseguiram evitar que o índice tivesse o pior fechamento do ano.
Já era esperado que a Bolsa fosse pressionada pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que ontem subiu a taxa básica de juros (Selic) para 7,75% ao ano. O ajuste de 1,5 ponto percentual foi o maior em quase vinte anos e ainda tinha gente que esperava que fosse maior. Mas o que pesou na decisão dos investidores hoje foram os riscos fiscais, que também contribuem com o aumento da inflação.
“A correção de 1,5 ponto percentual na taxa de juros foi por causa do possível furo no teto dos gastos. Até porque a inflação tem vindo de preços administrados, como energia elétrica e combustíveis”, explicam Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria.
A PEC dos Precatórios, que poderia ajustar o Orçamento e acomodar as despesas com o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, não foi para frente por falta de quórum. Em entrevista à CNN, o relator da proposta, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), disse acreditar que os parlamentares ainda podem se sensibilizar e votar a PEC na próxima quarta-feira.
Mas a notícia que repercutiu entre os investidores foi a de que, sem a PEC, o governo já estaria pensando em prorrogar o auxílio emergencial, cuja última parcela seria paga agora em outubro. A informação foi desmentida pelo ministro da Cidadania, João Roma, em entrevista ao Estadão. Mas os investidores não se convenceram.
“Essa possibilidade foi vista de maneira bem negativa. Fazer um novo Bolsa Família já implicaria em um novo furo no Teto dos Gastos, ampliar o auxílio emergencial seria injetar ainda mais crédito extraordinário”, afirma Espinhel.
O Ibovespa fechou em queda de 0,62%, aos 105.704 pontos. Com tal desempenho, o Ibovespa renovou mínima em cerca de 11 meses e caminha para fechar a semana com performance negativa e engatar a quarta perda mensal seguida.
O Ibovespa futuro, com vencimento em dezembro de 2021, recua 2,55% aos 105.180 pontos nos negócios do after market.
O índice só não caiu mais, pois foi amparado por ações de empresas que apresentaram resultados melhores que o esperado, como a Ambev, que teve a maior alta do dia e ficou entre os volumes mais negociados.
“A temporada de balanços pode corroborar que boas ações estão sendo de fato negociadas a preços descontados. isso para o investidor de longo-prazo é ótimo, mas para o de curto prazo, tem bastante volatilidade”, afirma Fernanda Melo, da HCI Invest.
“O investidor está procurando uma melhora no cenário macroeconômico e no curto prazo a gente percebe que é algo muito difícil”, afirma Peterson Silva, estrategista da Ébano Investimentos.
O dólar comercial fechou em alta de 1,26% a R$ 5,624 na compra e R$ 5,625 na venda. O dólar futuro com vencimento em novembro de 2021 é negociado no after market com alta de 1,51% a R$ 5,623.
Depois da decisão do Copom, os juros futuros subiram forte. O DI para janeiro de 2023 subiu 107 pontos-base, a 12,40%; DI para janeiro de 2025 avançou 94 pontos-base a 12,59%; e o DI para janeiro de 2027 subiu 79 pontos-base, a 12,51%.
“É o mercado preocupado prevendo aumento de taxa de juros no curto prazo e preocupado com situação fiscal no longo prazo”, “a gente percebe uma redução do volume de negócios da pessoa física e até impacto nos investidores institucionais dado um movimento de resgate nos fundos mais arrojados domésticos”, afirma Silva.
“Essa falta de credibilidade sobre a capacidade do governo de manejar a questão fiscal, acaba dificultando a ancoragem das expectativas sobre a inflação”, complementa Fernanda.
Nos Estados Unidos, as Bolsas seguem renovando máximas. O S&P 500 bateu um novo recorde no fechamento, subindo 0,98% aos 4.596 pontos. A Nasdaq também fechou na máxima histórica: 15.448 pontos, com alta de 1,39%. O Dow Jones avançou 0,68% e fechou aos 35.730 pontos.
O indicador mais aguardado do dia nos EUA era o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que veio em alta de 2%, porém menos que o previsto. Os economistas projetavam avanço de 2,7%. Houve uma desaceleração comparada ao segundo trimestre, quando o PIB avançou 6,7%. Por outro lado, os pedidos semanais de auxílio-desemprego vieram em 281 mil na semana encerrada em 23 de outubro, abaixo do previsto.
O Banco Central Europeu, assim como o Banco do Japão, anunciou que não vai mexer na sua atual política monetária, apesar das pressões inflacionárias. Em setembro, havia um sinal de que medidas de estímulos seriam reduzidas com a inflação chegando no maior nível em 13 anos. As Bolsas na Europa operam com tendências mistas. O Stoxx 600, índice que abrange empresas dos 17 setores mais relevantes do continente, fechou em alta de 0,24%.
Fonte: Infomoney