SÃO PAULO – Montanha-russa é pouco para explicar a movimentação do Ibovespa nos negócios desta quarta-feira (20). O índice de referência do mercado de ações brasileiro quase perdeu os 110 mil pontos hoje, zerando ganhos por duas vezes no dia, mas conseguiu terminar a sessão no terreno positivo, ainda que com uma alta muito modesta. Se ontem o mercado desabou com a expectativa de anúncio do Auxílio Brasil, substituto do Bolsa família, hoje a reação foi amena, mesmo com a notícia de que o benefício pago deve ser ainda maior que o esperado.
“O governo não quer que qualquer família beneficiária receba menos do que R$ 400”, afirmou João Roma, ministro da Cidadania, explicando que o Auxílio Brasil vai ser pago a partir do mês que vem com um reajuste de 20% em relação ao Bolsa Família. Roma explicou que, atualmente, as famílias recebem entre R$ 100 a R$ 500, a depender de sua composição.
“Não estamos aventando que o pagamento desse benefício se dê através de créditos extraordinários”, explicou Roma.
Ainda assim, o Ibovespa, que chegou a subir mais de 1% durante a fala do ministro, não se abalou a ponto de voltar ao terreno negativo. “Os players estão fazendo contas, discutindo”, afirma Lucas Monteiro, trader da Quantitas. Ele diz que a fala não conseguiu esclarecer muitos ruídos surgidos desde que as propostas começaram a ser ventiladas na imprensa, nos últimos dias.
“Falar apenas que os gastos adicionais não vão ser via crédito extraordinário, soou bem, porém não houve qualquer sinal de onde sairá o dinheiro”, diz Monteiro. Para ele, a noção de responsabilidade fiscal do governo e do Congresso parece fluida. “Dizer simplesmente que vai ter responsabilidade fiscal, de forma vaga, dá margem para se interpretar de que pode haver um drible no teto”, complementa.
Leonardo Santana, especialista em ações da Top Gain, destaca que o momento é de indefinição e que houve poucos detalhes acerca de como será o novo auxílio, mantendo o cenário de “muitas especulações e poucas definições concretas”. Para Santana, a principal questão será de onde virá o dinheiro para custear o novo projeto.
Neste sentido, será preciso aguardar também as definições sobre a PEC dos precatórios, que novamente teve sua votação na Comissão Especial da Câmara adiada. Uma nova reunião foi marcada para amanhã, às 14h30.
“O governo e o Ministério da Economia estão buscando realmente uma reformulação da PEC dos precatórios para que o recurso [do Auxílio Brasil] seja extraído dali”, explica Samuel Cunha, sócio da H3 Invest.
O Ibovespa fechou em alta de 0,10% aos 110.786 pontos. O volume de negócios ficou em R$ 30,7 bilhões na sessão de hoje. No after market, o Ibovespa futuro, com vencimento em dezembro de 2021, recua forte, 0,58 % aos 111.455 pontos.
O dólar perdeu força no mercado global e aqui no Brasil voltou a ser negociado abaixo dos R$ 5,60. O dólar comercial fechou o dia em queda de 0,59% a R$ 5,56 na compra e R$ 5,561 na venda. O dólar futuro para novembro de 2021 cai 0,36% a R$ 5,578 no after market.
No mercado de juros futuros, os contratos voltaram a subir forte. O DI para janeiro de 2023 teve alta de 16 pontos-base, a 9,96%; DI para janeiro de 2025 subiu 14 pontos-base a 10,96%; e o DI para janeiro de 2027 ficou com variação positiva de quinze pontos-base, a 11,29%.
A volatilidade dos mercados vem da percepção de que o rompimento do teto dos gastos públicos é praticamente certo e poderá trazer um cenário caótico para o ano que vem: crescimento baixo, inflação alta e juros ainda maiores.
“Forte volatilidade no mercado deve permanecer até termos mais detalhes sobre o programa, ao passo que, se tivermos mesmo um rompimento do teto de gastos confirmado, o cenário-base para 2022 não será nada fácil”, afirma Daniel Meireles, sócio da HCI Invest.
Nos Estados Unidos, os índices das Bolsas tiveram o sexto dia seguido de alta. Os balanços das empresas americanas continuam surpreendendo positivamente. Agora há pouco, a Tesla anunciou receitas e lucro recordes no terceiro trimestre. O Dow Jones avançou 0,43%; o S&P 500 subiu 0,37%; e o Nasdaq fechou com uma leve queda de 0,05%.
Apesar das perspectivas para a atividade econômica seguirem positivas no curto prazo, de modo geral, alguns distritos dos Estados Unidos observaram incerteza crescente e um otimismo mais cauteloso do que nos meses anteriores, de acordo com o Livro Bege, divulgado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
O mercado também aguarda novas definições sobre o pacote de investimentos em infraestrutura, que deve ser reduzido de US$ 3 trilhões para US$ 2 trilhões no Congresso americano.
As preocupações com a inflação global correm em segundo plano, mas permanecem no radar dos investidores. O índice de preços ao consumidor (CPI) na zona do euro avançou 3,4% em setembro na comparação anual, maior patamar para o mês de 2008. Na Alemanha, a inflação ao produtor (PPI) disparou 14,1% em setembro comparado ao mesmo período do ano passado, maior aumento desde outubro de 1974.
Na Europa, as bolsas fecharam em alta. O Stoxx 600, que reúne empresas de 17 países europeus em setores-chave, subiu 0,32%. A Bolsa de Paris (CAC-40), com alta de 0,54%, Londres (FTSE 100) avançou 0,08%; e Frankfurt (DAX) com ligeira alta de 0,05%.
Fonte: Infomoney