Quem já investe há algum tempo na Bolsa certamente já ouviu falar em opções. Elas também são negociadas na B3 e estão atreladas a outros ativos de renda variável, como as ações. Por isso, são tão presentes nas rodas de investidores.
Mas o que exatamente são as opções e como é possível lucrar operando com elas?
Este guia do InfoMoney responde essas e outras dúvidas para os investidores interessados em conhecer melhor esse mercado.
As opções podem ser utilizadas para fins bem distintos. Servem tanto para proteger os investimentos quanto para especular em busca de ganhos no curto prazo. Você vai entender os detalhes abaixo:
O que são opções?
Opções são instrumentos negociados no mercado financeiro. Elas representam um contrato que dá ao seu titular o direito de comprar ou de vender um determinado ativo por um valor determinado em uma data específica do futuro. É um tipo de derivativo, pois o preço de uma opção “deriva” do preço do ativo a que ela está atrelada.
Existem opções sobre diversos tipos de ativos. No Brasil, o mercado mais volumoso e conhecido é o de opções de ações, negociadas na B3 — mas há também opções sobre moedas, sobre contratos futuros de juros, entre outras. Agora, quando você ouvir falar “opções de Vale”, “opções de Petrobras” ou “opções de Ibovespa”, já sabe do que se trata.
Opções de ações e opções binárias são a mesma coisa?
Opções binárias não têm nada a ver com o mercado de opções sobre ações. Trata-se de um investimento não regulado no Brasil. As operações não acontecem na Bolsa, e sim diretamente entre compradores e vendedores por meio de uma corretora.
Também conhecidas como opções digitais ou opções de retorno fixo, as opções binárias permitem que o investidor faça uma aposta na queda ou na alta do preço de um ativo — como uma ação, um índice, uma commodity, uma moeda — no curtíssimo prazo. Para lucrar, não é preciso acertar de quanto será a variação, apenas a direção (se para cima ou para baixo).
Se, no prazo de alguns minutos, o preço do ativo realmente seguir a trajetória prevista na opção binária, o investidor ganha. O retorno é estabelecido em cada papel, na forma de um percentual do valor aplicado. Mas se o preço do ativo seguir na direção contrária à da aposta, perde-se tudo o que foi investido.
Quer transformar a Bolsa de Valores em fonte recorrente de ganhos? Assista a aula gratuita do Professor Su e descubra como.
Como funciona o Mercado de Opções
As opções podem ser negociadas na Bolsa ou no mercado de balcão. Quando são listadas em pregões como o da B3, elas possuem características padronizadas e têm data de vencimento estipuladas pela Bolsa. As garantias exigidas de quem negocia, como cobertura ou margem, também são estabelecidos pela B3.
Existem também contratos de opções não padronizadas que são negociados no mercado de balcão. Nesse caso, os compradores e vendedores é que definem as características do contrato, como prazos, valores e inclusive a necessidade de depósito de garantias. Essas opções são registradas na B3, a quem cabe apenas assegurar que os envolvidos cumpram o que acordaram.
É importante conhecer alguns conceitos básicos para entender como as opções são formadas e como podem ser utilizadas em estratégias de investimentos. Conheça os principais:
Ativo-objeto
O ativo-objeto de uma opção é o bem, a mercadoria ou o ativo que está sendo negociado. Opções de ações, por exemplo, têm ações como seu ativo-objeto. Opções de Ibovespa, por sua vez, têm o índice de ações como ativo-objeto.
Titular
O titular é quem compra a opção — e, por consequência, o direito de comprar ou vender o ativo-objeto.
Lançador
Esse é quem vende a opção para o titular, cedendo a ele o direito de comprar ou vender o ativo-objeto da opção — e, em contrapartida, assumindo a obrigação de comprar ou de vender o ativo-objeto também.
Prêmio
O prêmio nada mais é do que o valor pago por quem está comprando uma opção para quem a está vendendo. Nessa transação, o comprador — ou titular — passa a ter o direito de comprar ou vender o ativo-objeto da opção. Em outras palavras, o prêmio representa o preço de ter esse direito.
Call (opção de compra)
São as opções que dão ao seu titular o direito de comprar o ativo-objeto do contrato por um preço prefixado (ou preço de exercício) na data do vencimento (ou exercício).
É importante ressaltar que o comprador tem esse direito, mas não a obrigação. Caso prefira, pode simplesmente deixar a opção chegar ao exercício sem nada fazer. Nesse caso, apenas perde o valor pago como prêmio.
Put (opção de venda)
Quem possui uma opção de venda tem o direito de vender o objeto do contrato pelo preço de exercício na data do vencimento.
Também nesse caso não existe a obrigação de realizar a venda. Ao ceder esse direito a outro investidor, quem tem a put recebe um prêmio por isso.
Strike
Strike ou strike price é o mesmo que preço de exercício. Ou seja, representa o valor prefixado pelo qual o ativo-objeto poderia ser negociado no exercício da opção.
Assim, o investidor que adquire opções de compra de uma ação com preço de exercício — digamos — de R$ 20, poderia comprar o papel nessa data por esse preço. Nesse caso, R$ 20 é o strike das opções.
Vencimento de uma opção
O vencimento de uma opção também é chamado de data de exercício. Trata-se do último dia em que o titular pode exercer o direito de comprar ou vender o ativo-objeto. Desta data em diante, a opção simplesmente expira, perdendo a validade.
É como acontece quando você contrata um seguro para seu carro, por exemplo. Você tem o direito de acioná-lo até a data do vencimento da apólice. Se até lá não acontecer nada que exija o seguro, o contrato simplesmente expira. Para continuar protegido, será preciso que você faça uma nova contratação.
A partir de maio de 2021, a B3 começará a usar uma nova metodologia para o vencimento de opções. A data limite de negociação passará a ser a terceira sexta-feira do mês de vencimento, casando com a data do mercado internacional. Caso não haja sessão nessa data, ocorrerá na data anterior em que houver negociação.
Mas em que situação um investidor deve ou não exercer a opção? E em quais casos faz sentido deixá-la expirar? Isso depende do tipo de opção que o titular detém e da situação de mercado do ativo-objeto. Em linhas gerais, uma referência é:
O titular de uma opção de compra deve exercê-la apenas se o ativo-objeto estiver sendo negociado acima do preço de exercício. Nesse caso, seria vantajoso, porque ele compraria o ativo a um preço menor do que o praticado no mercado.
Se o ativo-objeto estiver sendo negociado a uma cotação menor que o preço de exercício, mais vale deixar a opção expirar, porque seria mais barato comprá-lo diretamente no mercado.
Já para o titular de uma opção de venda faz sentido exercê-la apenas se o ativo-objeto estiver sendo negociado abaixo do preço de exercício, porque o venderia a um preço mais alto do que o praticado no mercado.
Da mesma forma, caso o ativo-objeto estiver sendo cotado a um valor acima do preço de exercício, seria melhor deixar a opção expirar, já que a venda dele no mercado seria mais lucrativa.
Entenda o código das opções
Para operar com fluência no mercado de opções, é preciso entender como são definidos os códigos de negociação desses derivativos. Assim, ao bater o olho sobre um deles, será possível saber muitas das suas características rapidamente.
O código de uma opção é formado por uma combinação de cinco letras e dois números, sendo que:
As quatro letras iniciais indicam qual é o ativo-objeto da opção. Assim, o código de uma opção de ações da Petrobras começa com as letras PETR, por exemplo;
A letra intermediária indica se a opção é de compra ou de venda, além do mês do seu vencimento. As letras de A a L são usadas para identificar uma opção de compra, sendo que A demonstra que o vencimento é em janeiro, B em fevereiro e assim por diante. Já letras de M a X representam opções de venda, com M sendo vencimento em janeiro, N em fevereiro etc;
Os dois números no final do código representam o preço de exercício da opção.
Opção de Compra (CALL) | Opção de Venda (PUT) | |
Janeiro | A | M |
Fevereiro | B | N |
Março | C | O |
Abril | D | P |
Maio | E | Q |
Junho | F | R |
Julho | G | S |
Agosto | H | T |
Setembro | I | U |
Outubro | J | V |
Novembro | K | W |
Dezembro | L | X |
Vantagens e riscos de investir em opções
O mercado de opções pode ser muito útil para os investidores. Pode tanto ser usado como uma forma de proteção, quanto também permite especular em busca de ganhos rápidos. No entanto, ele envolve riscos que você precisa conhecer. Saiba um pouco mais sobre os principais usos das opções:
Hedge
Assim como outros derivativos, as opções podem ser utilizadas em estratégias que têm o objetivo de proteger o valor de um ativo ou de uma carteira das oscilações do mercado. Afinal, por preverem um preço de exercício, elas permitem “fixar” o valor do ativo-objeto, o que pode ajudar a suavizar o impacto de uma mudança nas cotações.
Para entender melhor como o hedge com opções funciona, imagine um investidor que possua ações de uma determinada empresa e pretenda mantê-las na carteira por um certo tempo. Se esse investidor teme uma desvalorização dos seus papéis durante esse período, pode usar opções para se proteger. Poderia comprar opções de venda, por exemplo.
Suponha que o investidor tinha ações cotadas a R$ 50 e comprou opções de venda com preço de exercício de R$ 49. Se, na época do exercício, as ações estiverem cotadas a R$ 45, ele ainda terá o direito de vendê-las a R$ 49. Caso realmente precise se desfazer das ações, poderá fazer isso com uma perda de apenas 2%. Se tivesse de vender as ações a preços de mercado, o prejuízo chegaria a 10%.
Essa é só uma das estratégias de hedge com opções. Existem muitas outras alternativas com opções de compra, de venda ou uma combinação entre as duas.
Alavancagem
Uma das características das opções é que, dependendo da estratégia adotada, elas permitem conseguir ganhos desproporcionais ao valor investido para operá-las. É isso o que normalmente chamamos de alavancagem: técnicas que permitem multiplicar a rentabilidade com endividamento.
Para entender melhor, é preciso lembrar que o preço de uma opção — ou prêmio — oscila muito mais do que a cotação do ativo-objeto. Por isso, o potencial de valorização ou desvalorização do valor investido na aquisição das opções é muito maior.
Em contrapartida, o valor do prêmio em geral é muito mais baixo do que o do ativo-objeto. O que se conclui disso tudo é que um investimento pequeno em opções pode gerar uma taxa de ganho elevada para o investidor.
Da mesma forma, o risco de perder todo o capital investido nas opções existe e é muito maior do que em outros tipos de investimentos.
Risco de perdas
No e-book Opções – Descubra como funciona esse mercado, o analista Fernando Góes ressalta que opções são ativos com altíssima volatilidade. “Isso significa que você pode perder 100% do que investiu ou ter um lucro de 500%. Isso é até comum no mercado de opções”, explica.
Isso acontece porque as opções, em si, não possuem um valor intrínseco. Seu valor depende do comportamento de um ativo-objeto, que pode ou não seguir na direção que o investidor havia imaginado quando comprou opções com determinadas características.
Pense em uma opção de compra de uma ação com um preço de exercício de R$ 20. Para comprá-la, o investidor precisou desembolsar, digamos, R$ 0,10 por papel. Grosso modo, essa opção só servirá para alguma coisa se a ação estiver cotada acima de R$ 20 — nesse caso, é possível acionar a opção para adquirir por R$ 20 algo que, no mercado, já está sendo negociado a R$ 23 ou R$ 25.
No entanto, se ao longo do período de vigência da opção a ação permanecer cotada sempre abaixo de R$ 20, ela não serve para nada. Afinal, seria mais vantajoso comprar os papéis diretamente no mercado a R$ 18 ou R$ 15, do que acionar as opções para comprá-los por um preço mais caro do que esse. Nesse caso, os R$ 0,10 investidos para comprar as opções “virariam pó”, como se diz no jargão no mercado. O prejuízo seria de 100%.
Por isso, é importante ressaltar que o mercado de opções é voltado para investidores já bem ambientados à bolsa e aos outros ativos de renda variável, com perfil de risco agressivo. Ele envolve riscos que alguém sem experiência teria muitas dificuldades para dimensionar.
Estratégias para operar
Existem maneiras de negociar opções que vão além da mera compra delas. São estratégias estruturadas, que podem render ganhos (ou perdas) conforme um conjunto de fatores se concretizem ou não. Conheça algumas das mais comuns no mercado:
Trava de alta
Para fazer uma trava de alta, primeiro é preciso comprar uma opção de compra “dentro do dinheiro” — ou seja, com preço de exercício inferior ao preço do ativo subjacente. Ao mesmo tempo, o investidor deve vender de uma opção de compra com preço de exercício maior. Ambas precisam ter a mesma data de vencimento.
Essa estratégia é considerada de tendência. Faz sentido montá-la diante de uma queda brusca da cotação do ativo-objeto ou quando existe uma expectativa de alta dele até o vencimento. Isso porque o ganho máximo na trava de alta corresponde à diferença entre os preços de exercício das opções de compra. Já a perda máxima corresponde à diferença do preço dos prêmios das opções no momento em que elas foram adquiridas.
Trava de baixa
Já para montar uma trava de baixa, é necessário vender uma opção de compra “dentro do dinheiro” (com preço de exercício próximo ao preço à vista do ativo subjacente) ou também “fora do dinheiro” (com preço de exercício superior ao preço à vista do ativo subjacente). Simultaneamente, o investidor deve comprar uma opção de compra com preço de exercício maior e com a mesma data de vencimento.
Também se trata de uma operação de tendência. Mas ao contrário da trava de alta, deve ser montada quando ocorre uma subida brusca ou quando existe uma expectativa de queda no preço do ativo subjacente até a data do vencimento. O maior ganho possível corresponde ao spread recebido no momento em que a operação é montada. Já a perda máxima é equivalente à diferença entre os preços de exercício das opções de compra, menos o spread da montagem da operação.
Borboleta
Uma borboleta é uma estratégia que consiste em comprar uma opção com preço de exercício mais baixo, vender duas opções com preço de exercício intermediário e comprar uma outra com preço de exercício mais alto. Na prática, representa uma mistura das duas estratégias descritas acima.
Ao comprar uma opção de strike baixo e vender uma de strike intermediário, o investidor realiza uma trava de alta. Ao mesmo tempo, faz também uma trava de baixa ao comprar uma opção de strike alto e vender outra de strike intermediário. A borboleta, portanto, se baseia em uma trava de alta e outra de baixa simultâneas, com um núcleo em comum.
Venda a descoberto
A venda a descoberto pode ser feita com opções de compra. Quem vende uma opção de compra fica obrigado a vender o ativo-objeto pelo preço predeterminado se, na época do vencimento, ele estiver cotado a um preço superior previsto na opção.
Normalmente, o vendedor da opção de compra possui o ativo-objeto – e, sendo assim, realiza o que se chama de “venda coberta”. Ela serve para remunerar a carteira com o prêmio recebido em troca da opção. Ao fazer isso, limita o ganho que eventualmente pode obter com o ativo-objeto. Afinal, mesmo que ele suba bastante, o investidor será obrigado a vendê-lo pelo preço da opção.
Há, no entanto, casos de vendedores de opções de compra que não possuem o ativo-objeto nas mãos. E é isso o que caracteriza a “venda a descoberto”. O detalhe é o risco: a perda financeira possível, caso a estratégia não dê certo, é ilimitada.
Straddle
Essa estratégia demanda duas operações: a compra e a venda de uma opção de compra com o mesmo preço de exercício. O objetivo, nesse caso, é lucrar com a volatilidade do ativo-objeto. Ele a cotação subir com força ou cair, o investidor pode ter um bom ganho.
Faz sentido optar por um straddle quando o mercado está em um momento de estresse elevado, ou ainda quando se espera a divulgação de algum fato relevante capaz de provocar um movimento brusco na bolsa. Se a ação subir ou cair muito, haverá ganho com uma das duas operações simultâneas, compensando a perda que será registrada na outra.
Como investir em opções
Toda essa conversa despertou o seu interesse? Se você é um investidor experiente, tem uma carteira diversificada e está consciente dos riscos envolvidos nesse tipo de operação, confira abaixo o passo a passo para começar a investir em opções:
- Escolha uma corretora para operar
Comece abrindo uma conta em uma corretora de valores. São essas instituições que realizam a intermediação das operações no pregão da B3, inclusive no mercado de opções.
Para escolher uma corretora, comece pesquisando as taxas de negociação de cada uma. É comum que as operações com opções sejam muito frequentes e envolvam valores baixos. Se a taxa de negociação for cara, o negócio pode não compensar.
Não deixe de avaliar os sistemas de análise e negociação disponibilizados pela corretora no home broker. Eles são fáceis de usar? Permitem realizar análises aprofundadas de maneira simples? Procure encontrar os mais adequados às suas expectativas de operação. Verifique ainda as condições que cada corretora estabelece para os depósitos de garantia.
- Defina as opções e as estratégias que vai utilizar
Neste guia, você viu que existem formas bem variadas de negociar opções. Se você está mais interessado nesse mercado para proteger sua carteira de ativos, vai operar de um jeito. Se quer especular ou alavancar seus investimentos, o formato será diferente. Identifique suas necessidades específicas para escolher como se posicionar antes de começar.
- Mantenha-se informado e estude
Não deixe acompanhar as notícias do mercado e de ler análises sobre opções. As corretoras e casas de análise costumam disponibilizar relatórios indicando as operações mais vantajosas com opções em cada período, orientando os investidores. Procure esse tipo de informação para então fazer suas próprias negociações.
Você também pode contar com a ajuda de especialistas. O analista Fernando Góes, da Clear Corretora, é um dos profissionais mais experientes do Brasil em opções. Ele elaborou um ebook gratuito que explica os conceitos que você precisa entender para operar nesse mercado e quais são as vantagens, os custos, os riscos e as principais estratégias com opções.
Fonte: InfoMoney